quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ALEM DO QUE OS OLHOS MOSTRAM......

Bom exemplo. Talita Bolduan contornou obstáculos naturais da falta de visão e, além de cursar a faculdade, já publicou um livro

Fabrício Porto/ND
Sua obra. Talita mostra o livro “Além do que os olhos mostram”, escrito quando tinha 14 anos

Total ausência de mágoa ou revolta com a vida é uma das muitas características de Talita Fernanda Silva Bolduan, 19 anos, escritora e deficiente visual. O que chama a atenção de qualquer pessoa em relação a ela é o sorriso marcante, permanentemente estampado em seu rostinho bonito, e os longos cabelos negros que emolduram o rosto juvenil. “Eu nasci com baixa visão e deixei de enxergar aos 14 anos, devido a uma toxoplasmose”, observa. Ela conta que adorava ler e pintar, enquanto a visão permitia. “Adoro livros e adoro ler até hoje, eles são maravilhosos. Eu usava uma régua especial para leitura, que era colocada sobre a página. Ela tinha um enorme poder de ampliação das letras o que possibilitava a leitura.”
Atualmente, Talita trabalha como assessora na Câmara de Vereadores de Joinville no gabinete do vereador Odir Nunes. Sua ferramenta de trabalho e de contato com o mundo da literatura é o computador, por meio do programa Dosvox (leitura de tela) e som captado através de fones de ouvido. Ela é uma “crítica esclarecida” quando o assunto é a inclusão das pessoas com qualquer deficiência “Estamos apenas engatinhando nesse campo, onde os avanços são poucos, quando se pensa no universo das deficiências humanas”. Uma rápida verificação demonstra que somente a Ajidevi (Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais)  e o Sesi oferecem alguns cursos para os deficientes visuais. Os livros escritos em Braille ainda são escassos e as impressões são caras. Para contornar a escassez, é assídua usuária do eBooks, onde sacia sua paixão pela leitura. “É uma ferramenta muito especial para pessoas como eu,” garante. Machado de Assis, Raquel de Queirós e Jorge Amado, estão entre os seus autores preferidos.
Outra paixão é o idioma espanhol e que esta em seus planos um estudo mais aprofundamento da língua, em futuro não muito distante. Ela cursa o segundo ano da faculdade de Letrans, na Univille, e já pensa num mestrado. Realmente, Talita já tem muito definido o que deseja fazer para sua formação acadêmica e pós-acadêmica. Para isso, conta com total apoio dos pais - Tatiane Fernanda Silva e Ademir Bolduan - e de seu irmão caçula, o garoto Anderson Filipe, 9 anos de idade. Ela também foi professora de informática durante meses, ministrando aulas na Ajidevi e na Casa de Inclusão do Sesi. Ali, ensinou desde as noções básicas até o Excel para alunos na faixa etária dos 20 aos 60 anos. “Foi muito gratificante voltar e retribuir com aquilo que aprendi. Mas vieram os estudos mais aprofundados e a faculdade. Infelizmente, tive que deixar.”

Estamos apenas engatinhando nesse campo, onde os avanços são poucos, quando se pensa no universo das deficiências humanas.”

Diferentes formas de comunicaçãoTalita é uma pesquisadora e busca tudo o que precisa na internet para o seu aperfeiçoamento e trabalho na Câmara de Vereadores, onde, aliás, protagonizou alguns episódios hilários. Como sua mesa de trabalho fica próxima a uma grande vidraça, ela identifica os colegas através das tradicionais batidinhas na janela - segundo ela “cada um tem um toque diferente e identificável”. Certa ocasião, dia de agenda cheia para o presidente da casa, uma sequência rápida de batidinhas, ao que ela respondeu com o tradicional “tchauzinho”. Pouco tempo depois, novamente a batidinha e, ela, o tchauzinho. Depois da quarta vez, um homem entrou na sala, já alterado, e foi logo dizendo: “moça será que a senhora não vê, eu tenho hora marcada com o vereador”. Rindo da situação, ela disse ao visitante: ”Desculpe, eu não vi o senhor; mas já avisarei o presidente.”
Convidada, Talita faz parte da seleta Confraria dos Escritores de Joinville. O seu livro “Além do que os olhos mostram”, foi escrito aos 14 anos e publicado pela editora Dialogar, em 2011. “Meu livro não tem nada de autoajuda. É a estória de uma mulher de 20 anos que vai para uma festa com alguns amigos. Ela sofre um acidente e bate a cabeça; começa perder a visão e tenta uma cirurgia que não dá certo. É uma narrativa dos problemas com adaptações, medos, angústias e aceitação”. (Valter F. Bustos, especial para o Notícias do Dia)

Além do que os Olhos Mostram-Lançamento do Áudio Book na AJIDEVI (fotos)


“Alem do que os olhos mostram”, de Talita Fernanda Silva Boduan - Associada da AJIDEVI



Esta história retrata o dia-a-dia de muitos deficientes visuais. Em especial, retrata as várias mudanças que ocorrem na vida de uma pessoa que se torna deficiente visual: suas dificuldades, seus anseios, suas angústias, seus medos e, por fim, a aceitação do fato, que vem com o tempo.
A protagonista desta história, Vanusa, sempre foi uma pessoa alegre, disposta e amante da vida e de festas. Tudo estava indo muito bem até que um dia perde a visão após um tombo. E aí tudo mudou…